quarta-feira, 18 de março de 2009

Entrevista de Luciano Vidigal e Cavi Borges a Jorge Duran


Durante os meses de janeiro e fevereiro, na cidade do Rio de Janeiro. O Cineasta chileno ,radicado no Brasil, Jorge Duran dirigiu o seu terceiro filme "Não se pode viver sem amor"
O filme conta a estória de Gabriel, um garoto de 7 anos, que viaja com a jovem Roseli, 27 anos, para uma grande cidade em busca do pai que o abandonara há muito tempo. Tendo
apenas um endereço como referência, os dois vagam pela cidade, enfrentando perigos, descobrindo um
forte dom de Gabriel e encontrando pessoas que os ajudarão a desvendar o passado.

Durán é considerado um dos grandes roteiristas em atividade no
país. Possui um currículo de clássicos do cinema nacional como “Lúcio Flávio, o passageiro da agônia”
(1977), “Pixote, a lei do mais fraco” (1981), e “O Beijo da Mulher-Aranha” (1985), todos dirigidos por
Hector Babenco; e “Gaijin, caminhos da liberdade” (1979), de Tizuka Yamasaki. Durán também foi coroteirista
de “Nunca fomos tão felizes” (1984); de “Como nascem os anjos” (1996), de Murilo Salles;
e “Jogo Subterrâneo”, de Roberto Gervitz. Como cineasta dirigiu os longas-metragens “A cor de seu
destino” (1986) e “Proibido Proibir” (2006), filme que recebeu diversas premiações internacionais, dentre
as quais os prêmios de melhor filme nos festivais de Biarritz (França) e Viña del Mar (Chile); o prêmio
especial do júri em Havana (Cuba) e o de melhor direção em Valdívia (Chile).


O elenco do filme é composto por atores conhecidos do grande público. Angelo Antonio, de DOIS FILHOS DE FRANCISCO’, Cauã Reymond, da novela ‘A FAVORITA da TV GLOBO, Simone Spoladore, de ‘LAVOURA ARCAICA’ e O ANO QUE MEUS PAIS SAIRAM
DE FÉRIAS’, Maria Ribeiro, de ‘TROPA DE ELITE’ . Fabiula Nascimento do filme ‘ESTÔMAGO’ e o recentemente premiado, no Festival do Rio 2007, Babu Santana .

Eu tive o privilégio de fazer parte da equipe do filme como peparador de elenco. Aproveitei a deixa e convidei o amigo Cavi Borges para um bate um papo com o cineasta Jorge Duran.



Duran! Eu e o Cavi queremos começar nosso bate papo sabendo suas palavras sobre seu novo filme "Não se pode viver sem amor".
O tamanho de grandes cidades como São Paulo e o Rio de Janeiro sempre me impressionou.
O sentimento de anonimato que elas me produzem me agrada e assusta. Faz-me pensar nas
possibilidades infinitas de cruzamentos, em impossíveis encontros, a não ser pelo azar, a sorte, o destino
– aceitemos por um momento que ele existe. Olhando as pessoas nas ruas,
nas imensas avenidas, a
proporção minúscula da gente ao lado dos imensos prédios, um dia pensei quais seriam as chances de
encontrar alguém, de quem não tivéssemos endereço, ou telefone, ou algum conhecido comum.
Concluí que somente um milagre permitiria esse encontro.
Este roteiro fala de gente comum, gente que vemos nas ruas e raramente olhamos mais de uma vez.
Pessoas que carregam dentro de si, como todos nós, o mais profundo dos mistérios: aquele da vida e
da morte. Neste filme quero afirmar que é possível ter esperanças, que é imprescindível não perder a
esperança. Gosto de pensar nas estratégias de sobrevivência que adotamos no dia a dia. Gosto de ver
no cinema dramas de gente comum, exercendo suas estratégias de sobrevivência. Ainda, este roteiro
me permite revelar o Rio de Janeiro que eu vejo, o brasileiro como o vejo.


Como foi a experiência de filmar na cidade do Rio de Janeiro?
Filmar no Rio nunca foi fácil. Principalmente nos últimos anos. A burocracia exige autorizações e acompanhamento da prefeitura para filmar na rua. A insegurança obriga a trabalhar escolhendo cuidadosamente as locações, para evitar pôr em perigo a equipe e o equipamento.
Tem regiões na cidade em que é difícil conseguir apoio ou preços convenientes para alugar locações, provavelmente porque a TV satura a cidade com propostas em dinheiro ou visibilidade que facilita a vida deles, mas a longo prazo dificulta a quem vai filmar para cinema.
A alimentação é cara, embora em geral boa.
Contudo, a cidade é uma grande desconhecida para o publico em geral, que conhece muito bem as zonas turísticas ignorando bairros mais distante, de grande tradição e beleza.
Foi nesses bairros que escolhi as locações para este NÃO SE PODE VIVER SEM AMOR e no PROIBIDO PROIBIR.

O roteiro deste filme foi escrito por você e a Dani Patarra antes do "Proibido Proibir". Por que demorou tanto tempo para ser filmado?

O roteiro nasceu de um argumento meu, desenvolvido pela Dani e eu.
Embora o roteiro ganhou em 1999 o prêmio de melhor roteiro no concurso nacional organizado pela SAV do Minc, foi convidado a participar de um Sundance em São Paulo e outro em Barcelona, foi selecionado para o mercado de projetos de Rotterdam e Mannheim, não despertou interesse no Brasil. O BNDES o rejeitou duas vezes e na PETROBRAS somente passou num segundo concurso, fora outros concursos onde não foi visto com interesse.

Como foi produzir esse filme?
Não foi fácil, porque o orçamento, que deve chegar no fim a R$1.400.000, é pequeno para o tipo de roteiro. Rodar em 5 semanas foi muito difícil e exigiu um trabalho intenso da equipe toda. Nestes casos, você tem que confiar muito na sua intuição do que está acontecendo, porque se para e olha atentamente o resultado de cada tomada, precisaria de duas a três semanas a mais. A equipe foi formada com colegas com muita experiência e jovens profissionais com pouca experiência. Isso, logicamente obriga a filmar mais lentamente. O elenco de atores com experiência aceitou trabalhar muitas horas, cobrando honorários baixos. Atores, como você sabe por experiência, caro Luciano, neste tipo de produção, são sempre muito generosos.
Por que um diretor com seu histórico encontra dificuldades para conseguir dinheiro pra filmar aqui no Brasil?
Acho que tenho alguma dificuldade a mais. Mas me lembro de quantos colegas não fizeram ainda seu primeiro longa, acho que tenho sido bem tratado. Por outro lado, sempre fui visto como um roteirista e isso não deve ter ajudado muito. Nos concursos esqueceram que junto com roteirista, ou antes de me dedicar principalmente a escrever, fui assistente ou diretor assistente, produtor executivo, diretor de produção, aqui e no Chile, em mais de 20 filmes.
Como foi trabalhar com orçamento mínimo?
Já expliquei acima. Mas já me acostumei e vou prestar mais atenção aos roteiros que escrevo para mim, contando antecipadamente, com pouco dinheiro. Acho que posso fazer filmes interessantes se não perder a objetividade: no Brasil, cada vez se concentra mais o dinheiro em produções grandes, que pouco me interessam nos resultados que mostram.
Filmei em digital e penso continuar filmando em digital. É mais barato durante a filmagem e mais caro na finalização. O que mais gostei é das possibilidades de rodar, experimentar com mais liberdade, já que o preço do negativo é constrangedor. Pensei que o Digital mudou minha forma de pensar o que vou rodar, já que posso fazer da filmagem, de cada plano, uma espécie de “ work in progress” permanente. No fim, o que importa é ter um bom conflito, bons atores, temas e idéias. O que me interessa são as pessoas e seus conflitos. E para isso o digital me serve muito bem.
A falta do dinheiro modificou ou influenciou no roteiro e na forma de filmar?

Modificou sim. Normalmente durante a filmagem vou reescrevendo o roteiro, conforme vou vendo nascer o filme dia a dia. Uso o roteiro como um bom guia para não perder o rumo, uma idéia de ritmo e tempo, mas o que me interessa manter vivo é o tema e as idéias. Cuido do elenco nas suas qualidades e dificuldades, o que me obriga a uma constante revisão da ação e diálogos.
Você foi júri do festival do Rio 2008. Percebeu alguma novidade nas produções brasileiras? destacaria algum diretor promissor no cinema brasileiro?
Gosto do trabalho do José Eduardo Belmonte, do Heitor Dhalia, do Claudio Assis, do Lírio Ferreira, do Karim Ainouz e de alguns mais velhos, como o Murilo Salles. Acho o cinema mais dirigido ao publico, que vai procurando uma entretenimento fácil, chato e pouco interessante, mas absolutamente necessário. Acho bom que o publico tenha oportunidade de ver diversos Brasis mostrados pelos cineastas. Mas acho que a política de governo é liquidar o cinema independente, se é que a denominação tem ainda algum significado.

Bia Castro, produtora executiva de cinema,disse que o maior problema dos filmes brasileiros é o roteiro. Você concorda?

Discordo. Tenho longa experiência trabalhando com diretores de diversas gerações. A falta de objetividade de muitos deles, é assustadora. Ultimamente, os Produtores tem acertado mais, mas a quantidade de fracassos que tem produzido ao longo dos anos é significativo. A Bia esquece que nenhum roteirista tem o poder para que o que se escreve seja filmado: essa possibilidade sempre esteve nas mãos dos diretores-produtores ou só dos produtores. Eles que escolhem gastar e filmar do jeito que pensam. E nós que escrevemos mal? Raciocínio esdrúxulo da Bia.

Qual é a sua expectativa para seu novo filme "Não se pode viver sem amor"?

Nenhuma. Se meus amigos gostarem e os amigos dos meus amigos, fico contente (acho que Buñuel tinha toda a razão quando disse essa frase, à qual me associo). Mas se o publico aceitar ele, vou ficar muito feliz. Com o orçamento de filmagem pequeno fiz tudo para fazer um bom filme. Mas para sair nos cinemas, é outra coisa. Por exemplo, PROIBIDO PROIBIR teve R$200.000 para o lançamento, incluindo tudo. Outros filmes, na mesma época estrearam com orçamento varias vezes maior. Alguns tiveram muito sucesso, outros, nem tanto. Mas na hora de fazer a conta, vale igual para quem sai com 12 copias, que o sai com 200, ou mais copias. Ninguém faz a conta de quanto rendeu cada copia: essa caixa preta fica esquecida.

Um comentário:

Unknown disse...

Li a materia na Revista Real com distribuicao no Reino Unido. Hoje porem venho humildemente pedi ao nobre ator, diretor, colunista, enfim ao polivalente, Luciano Vidigal para que com suas sabias palavras escreva algo nas paginas da Real sobre o saudoso Augusto Boal, profissional que certamente deve ter influenciado a caminhada desse ator ou melhor artista impar, chamado Luciano Vidgal.
Beijao,e saudades dos tempos da Cal, nao como aluna, mas como espectadora fa de amigos que estudavam naquele "templo" educacional.
Abracos Energeticos