quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"5 x Favela" leva prêmio de júri popular em Biarritz

No último dia 2 (sábado), o longa-metragem"5 x favela - Agora por nós mesmos" levou o prémio do público no 19º Festival de Cinema e Cultura da América Latina de Biarritz, na França.

Outros brasileiros também saíram premiados:

Melhor interpretação feminina - Nanda Costa, Amanda Diniz e Kika Farias pelo trabalho em "Sonhos Roubados", de Sandra Weneck

Melhor documentário - "Diário de uma busca", de Flávia Castro

Melhor curta-metragem - "Los minutos, las horas", uma produção da Escola de Cinema San Antonio de los Baños, de Cuba, dirigido pela estudante brasileira Janaína Marquez Ribeiro


Leia o emocionante relato do diretor Luciano Vidigal, direto de Biarritz:


Sensações do 5x Favela em Biarritz

Cacá Diegues, Renata Almeida Magalhães e eu somos chamados ao palco do Gare Du Midi. Rapidamente resolvo pedir, em inglês, para um jovem francês tirar algumas fotos nossas no momento do discurso. O jovem sorrir e recebe minha câmera fotográfica.

Ao fundo do palco me espanto com a grandiosidade da tela que o “5x Favela” será exibido. Cacá e Renata conversam, em francês, com Jean-Chistophe, diretor artístico do festival,sobre o filme. Faço cara que entendo tudo e distribuo sorrisos para uma platéia de mil e quatrocentas pessoas... Que medo!

Recebo o microfone das mãos do Cacá. Chegou a hora do meu discurso, sinto vontade de chorar. Falo emocionado da importância da Novelle Vague e o Cinema Novo nas minhas influências cinematográficas. Recordo que o “5x favela” não é apenas um filme e sim um marco na minha geração de cineastas oriundos das favelas brasileiras. Cacá pede calma para ele traduzir, a platéia sorrir. Ele traduz e a platéia aplaude.

Termino dizendo que o filme abre as portas para que todos entrem e conheçam a alma da favela. Descemos do palco sobre aplausos.

“Fonte de Renda” na tela. Percebo uma grande atenção da platéia ao filme. Enxergo a critica irônica ao sistema, posições políticas, sutilezas e as personalidades do Wagner Novais e Manaira Carneiro dentro do personagem que Silvio Guindane conduz com genialidade. Admiro muito esse trio ternura. Fim do filme. Alguns aplausos ainda tímidos. Bom sinal pra início de conversa.

Música do Paulinho da Viola. Começa o apelidado “filme da galinha”. Sempre achei que este filme é a prova viva de que dois diretores podem ter tamanha afinidade para dividir um filme. Às vezes me pergunto se Rodrigo Felha e Cacal Amaral trouxeram a memória emotiva, sensibilidade, inteligência e humor da sua infância para esta obra sublime. Algumas gargalhadas da platéia. Percebo que os brasileiros estão presentes entre os franceses. Na resolução dos conflitos aparece na tela o épico “Voltei”. Longas gargalhadas e aplausos. Não tem jeito, é universal.

Thiago Martins está em primeiro plano, dentro de um pequeno barco, comandando seu bando, através de sussurros, para um assalto num quartel, sobre a escuridão do mar. Quanto mais silêncio dentro do cinema, percebo que a minha intenção está funcionando. Tiros, lágrimas, olhares silenciosos finaliza o episódio. Silencio... E um longo aplauso. Ufa!

Voa deixa Voar... Chegou tua hora! Sempre me interessei e identifiquei pelos temas que o Cadú Barcelos destrincha dentro do seu filme: Adolescência, amor, pontes e facções... A pipa colorida sobre o céu azul define a naturalidade, alegria e sabedorias precoces que existem dentro do moleque que é o Cadú. Que privilégio marcante ser dirigido por ele... Ponte, música e mais aplausos. Que platéia.

Forró e o Vidigal, a minha paixão na tela. Muitos diálogos, brilhantes atores, cinema argentino, italiano e brasileiro num só filme. Quanta inteligência e qualidades numa só mulher. Viva a Luciana Bezerra. Muitas gargalhadas nas piadas antes da tradução do filme. Agora tenho certeza que os brasileiros estão presentes no público de Biarritz. Muitos cumprimentos e fotos no final da uma sessão inesquecível.

Premiação na noite seguinte. Cacá é convidado para entregar um dos prêmios. Sem mais delongas, logo escutamos em francês: Prix du public 5x favela. Renata segura na minha mão, pelo calor sinto que ela também está emocionada. Cacá beija minha testa no palco. Lembro dos meu seis companheiros de direção, ou melhor, minha família. Deixo a emoção tomar conta e choro... Cacá e Renata falam em francês, agora mesmo que não entendo nada. Minha vez de falar. Assumo que estou emocionado. O público aplaude... Agradeço ao senhor Carlos Diegues por fazer parte de Cinema Novo e ter me ajudado a construir a visão política do meu país. Dedico o prêmio a todos os operários das favelas brasileiras. Cacá traduz e aplausos, muitos aplausos... Um senhor me agradece por estar regando para que renasçam as flores para um novo cinema. O jovem que tirou minhas fotos na noite anterior bate três vezes no lado esquerdo do meu peito e fala baixinho: Revolucion, revolucion...

Ainda me perguntam o motivo pelo qual eu escolhi fazer cinema...


Luciano Vidigal

Biarritz, 3 de outubro de 2010

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